Mais um ontotàrio

MAIS UM ONTOTÁRIO

Fiz terapia por 1 ano e meio com uma psicóloga comum. Ela aparentemente não aplicava teorias ontopsicológicas em minhas sessões de terapia, mas em suas sessões de "cinelogia", aplicava a nomenclatura ontopsicológica.
Minha curiosidade me levou a procurar aqui na UNICEUB/Brasília as palestras do dito "professor". Fiquei encantado com a primeira palestra que ouvi onde ele afirmava com incrível segurança coisas como "AIDS é doença psicossomática", ou "é inútil mapear o código genético no projeto Genoma, o que importa é a psique", entre outras afirmações muito ousadas. Ele realmente parecia um cientista, e com tantos "títulos"...
Um ano depois assisti outra palestra sobre "memética" e novamente fiquei maravilhado, ele misturou sua ontopanacéia com conceitos desta recém-nascida ciência, a memética e fiquei entorpecido. Era muita novidade e muitas rupturas simultâneas com conceitos antigos.
Eu quis então fazer um "Residence" em liderança pois sou empresário e achava que o evento poderia me ajudar na empresa. Comprei as passagens de avião para mim e para minha namorada, paguei a fortuna cobrada pelo curso (adiantado é lógico). Eu estava realmente iludido que o fanfarrão era capaz de ajudar alguém a se curar e a tornar-se líder.
Ao chegar ao "Recanto Maestro" em Santa Maria começaram as surpresas... Não havia quartos para casais. Sexo nem pensar, era um desperdício de energia naqueles dias "tão preciosos". Não deveríamos sequer telefonar (também não havia como, o celular não pegava naquele fim de mundo, e não havia telefone). Fui para o meu quarto com outro jovem ontotário como eu. Me sentia em um campo de concentração, embora as instalações parecessem adequadas.
Então começou a lavagem cerebral, ao invés de assistir palestras e debates, ficamos 3 dias assistindo fitas de vídeo de palestras dadas anteriormente, cujo conteúdo estúpido podia ser comprado "ipsi literis" por 30 reais na livraria do evento. Por que assistir televisão? O motivo é simples, na frente da telinha o cérebro muda a energia do lado esquerdo para o lado direito, ou seja, você fica vulnerável e receptivo.
A desculpa esfarrapada para tal embuste era que "a presença física do professor causava uma perturbação energética entre os ouvintes". Obviamente me senti enganado, mas não me dei conta da sutileza psíquica de tal afirmação, cujo objetivo era mitificar o "professor" como um indivíduo especial, dotado de poderes e outras características metafísicas. Inconscientemente acreditei nisso, e estava aberta a porta para a doutrinação em minha mente, estava estabelecido o vínculo pai-filho.
A verdade? Não há como debater ou questionar uma fita de vídeo.
Participei de uma estúpida sessão da chamada "melolística" também sem me dar conta de que aquilo era um preparatório bio-químico para a lavagem cerebral que se seguiria, através do stress físico e indução de estado de transe. Saí da sessão de melolística com uma mente vazia (pronta para receber dogmas novos). Mais uma porta aberta para a invasão inimiga na minha mente.
Eramos aconselhados a abandonar o "achismo". Também não percebi a mensagem subliminar por trás de tal afirmação, onde eramos sugestionados a abandonar nossas defesas, crenças, pensamentos, princípios, e tudo que nos levava a ter identidade. Outra porta aberta para a lavagem cerebral.
Sou excelente digitador, e digitei cada palavra das palestras em meu computador portátil. Conforme minhas detalhadas anotações, ele afirmava:

"Eu descobri como a vida funciona, como funciona o individuo no contexto do mundo. Olhando vocês, vejo que sabem de tudo, vocês percebem como a humanidade caminha, mas ao falar fazem parte da igreja do achismo. Isso é democracia mas não é  vida. A realidade caminha segundo regras reais. Achismo nao é real. Achismo não funciona de forma nenhuma. Se você está em ordem você usa com vantagem dos outros. Se você está dividido cheio de achismos, constrói os outros contra você. A dor vem do que a consciência pensa, até o câncer, a AIDS. Devemos procurar a nós pois somos a coisa mais importante do mundo"

E com diversas afirmações como essa, ele cada vez mais se colocava na posição de eliminar as defesas da audiência.
As fitas de vídeo que assistimos eram uma apologia à robotização do ser humano, que deveria ver só trabalho, e eliminar de sua existência empecilhos como "amigos, família, pais, filhos, cônjuges, sexo, ideologias, amor", (e todas as coisas boas da vida), para conseguir a qualquer custo "uma estrada prática para o sucesso pessoal".
Ele também afirmava que jovens que conheceram a ontopsicologia, hoje gerenciavam centenas de milhões de dolares, mas não citou um nome sequer. Incentivava a usar pais, amigos, professores como "recursos".
Afirmações como as abaixo são verdadeiras pérolas da imbecilidade meneghetiana, cuidadosamente anotadas em meu computador:

"Alguns sujeitos aumentam a quantidade de neurônios depois dos 60/70 e se tornam hiperativos logicamente".
"A maioria dos líderes permanecem no lugar onde nasceram. Não existem grandes que giraram tanto por aí".
"Eu queria ser teólogo, o conhecimento adquirido no campo teológico, quando me interessei por psicologia,  vi que eu tinha um conhecimento extraordinário que faltava a Jung, que falava algumas coisas sem ter preparo técnico".
"Quando se está no poder não se tem amigos".
"Sempre que vemos a queda de um sujeito, a culpa é dele mesmo, que falhou seja por afeto, seja por confiar demais, seja por preguiça".
"Os filmes, teatro, novelas mostram um amor que só acontece na juventude".
"A gente fala de amor, paixão, mas é só 'biologismo'. Sucesso é uma questão de inteligência, não é corpo. A primeira coisa a entender é o que você quer do seu corpo, do seu sexo, do sexo com a pessoa com quem você se relaciona".
"Se você se casa perde o direito de pensar só em você". (Pensar só em sí mesmo é o que se prega constantemente).
"Condicionar o potencial de inteligência à família é a morte do sucesso".
"Era uma vez 2 amigos. Um todo conservador, pensava em casa, trabalho, família. O outro era 'livre'. Um dia morreram, e foram pro céu. O primeiro disse em seu julgamento, "pequei, fiz umas coisas, mas suportei minha vida inteira uma mulher". São Pedro diz, pode passar. O outro amigo, vendo o julgamento confessa, "fiz tantas coisas na vida, mas eu tive duas mulheres". São Pedro o condena ao Inferno. Mas como? Meu amigo tinha uma e foi pro paraíso? E São Pedro respondeu, "Ser estúpido uma vez é perdoável, ser duas vêzes, é imperdoável".
"O orgasmo da vida conhece-se sabendo a ordem profunda da própria natureza, e só vem depois dos 60 anos de idade". (Um convite implícito às meninas da audiência para fazerem sexo com o ancião ontorgásmico).
"Sexo e amor, isso é perda de tempo, vamos falar sériamente. Onde está o negócio ? Se sexo fosse bom as putas seriam as primeiras mulheres do mundo".
"Procurar o orgasmo é uma estupidez. Quando a mulher faz todo aquele teatro de gemidos não é verdade. O orgasmo feminino é uma coisa silenciosa, íntima". (Um convite implícito as meninas da audiência para negarem a expressão de seu prazer).
"A estrada ideal é não fazer sexo. Eu fiz isso. Não fiz sexo antes dos 28 pois via que sexo antes dos 28 era um grande perigo".
"Se você telefona para a ONU não encontra um brasileiro". (Lamentável ele falar isso justamente para mim que tenho o telefone de brasileiríssimos na sede da ONU em Nova York).
"Partidos comunistas como o PT jamais entrariam nos EUA, mas o PT é financiado por dinheiro americano". (Que o diga Lula...)
"Eu concordo que todos os psicólogos conhecidos são estúpidos, especialmente os de universidade. A psicologia verdadeira é o elemento básico de todas as outras ciências".
"A exaltação da cultura africana, do corpo e do sexo, é uma grande causa de doença e regressão. A AIDS é uma revelação de um erro da espécie negra no aspecto sexual". (Meneghetti é um Racista Nazista miserável)
"A bíblia diz sexo por sexo destrói povos. Vide o exemplo de Sodoma".
"Não tenham pretensão de compreender a ontopsicologia. Existem livros que até hoje não foram compreendidos".
"É difícil reconhecer os Genios Solares. Quase sempre se vai contra eles".

Fomos todos assistir então a uma "cinelogia", mais uma forma de manipulação mental sofisticada. Nesse residence, o filme escolhido foi "Beleza Americana". O filme mostra um personagem que teme envelhecer, teme perder a fé no amor da filha e da esposa, e não é respeitado no trabalho. Todos nós já sentimos algo assim. O filme é desesperançador para qualquer pessoa sensível que se coloca no lugar do outro, e o "condutor" aproveita muito bem esse breve desespero para dogmatizar com o chavão "sem a libertação dos estereótipos de amigos, família, sexo, amor e ideologias a vida de vocês será como a dos personagens de Beleza Americana".
Não seria mais apropriado dizer que se você busca "sucesso a qualquer custo", sua vida seria como a dos personagens? Acredito que a interpretação do filme deveria ser sobre como a vida se torna fria quando o homem perde seus sonhos, e não sobre como os "estereótipos" de casamento, família, filhos, sexo, amizade tornam sua vida infeliz. Não acredito que a solução para infelicidade seja abandonar os "estereótipos" em favor de uma vida de "líder".  Sonhar nada tem a ver com "em sí ôntico", e é delicioso realizar seus sonhos com sua companheira e compartilhar com seus filhos e amigos. Isso sim é vida e felicidade.
No último dia uma sessão de tortura quando todas as defesas psicológicas estavam derrubadas. O golpe final da lavagem cerebral, sob o pretexto de "instrumentalizar o ego". Relato o caso de uma jovem abaixo que narrou um sonho para resolver sua dor da perda dos pais:

Paciente: "eu estava enclinada encostando a cabeça na sua perna (perna do Meneghetti), e você como que catava piolho na minha cabeça"
Meneg.: "Porque você me deseja como pai quando pode me ter como amante?"
Meneg.: "Já viu penis do seu pai?"
Paciente : "não lembro"

Infelizmente a jovem saiu com pouco mais que isso do residence, e provavelmente deve estar com seus problemas psicológicos até hoje se não foi procurar um psicólogo de verdade.
Quanto a mim, um empresário bem sucedido em Brasília, proprietário de 4 empresas de sede própria a mais de 8 anos, dono do meu nariz, da minha casa, do meu carro, e curtindo minha nova namorada que infelizmente estava presente, caí na infelicidade de dizer meu problema. "Bom Sr. Menegh., realizei sua receitinha básica de sucesso e não ví a felicidade. Como alcançar a felicidade?"
Então o indivíduo me fez algumas perguntas inúteis como minha idade, situação financeira, estudo, e se eu era casado. Não percebí a emboscada e passei adiante as informações, e quando disse a ele que minha namorada estava presente ele soltou uma risadinha e começou a me atacar por espelho, me esqueceu por completo (mensagem subliminar: você não merece minha atenção) começou a conversar com ela, perguntando "Por que você escolheu ele?". Ela mencionou um motivo qualquer e ele perguntou aos presentes, "Alguém aqui acha que ela escolheu ele por esse motivo?". Qual não foi a minha surpresa ao ver mais de 50 pessoas gargalhando de mim como se eu fosse a coisa mais ridícula do planeta a ser escolhida por uma mulher. Bom, obviamente essa agradável experiência me trouxe muitos benefícios para meu espírito de liderança e auto-estima. Tive pesadelos por anos com multidões rindo de mim. Será que existe alguma teoria psicológica científica que ilustre os inúmeros benefícios da humilhação pública? Claro que não.
Então ele se voltou para mim novamente e me perguntou um sonho, (ele manipula as pessoas pela interpretação "inovadora" dos sonhos) e eu narrei um sonho onde um papagaio bicava minha cabeça. Ele disse que era minha mãe. Hoje eu sei que a ave tagarela que me atacava era ele mesmo, o próprio.
Voltei do "residence" com um trauma e um problema de relacionamento, mas ainda sim intrigado. Procurei na internet as ontobaboseiras como ""ampo semantico", "organísmico", "lilithismo", "vaginismo negro", "puto verme" e... surpresa... ninguém no planeta virtual jamais escreveu sobre estes termos "científicos".  Fiquei desconfiado.
Por que os livros do "grande cientista" não estão a venda na Amazon (ou em qualquer outra livraria virtual)?
Por que o "cientista" não tem nenhum artigo publicado no meio Científico ou na Internet?
Por que o que ele "ensina" ninguém conhece?
Que ciência é essa que não tem referência?
Por que os livros dele não tem bibliografia nem são encontrados nas livrarias?
Fui ficando intrigado, e cheio de questionamentos quando esbarrei no site do Joseph Inca e fiquei chocado. Eu tinha sido mais uma vítima.
Em seguida veio a reportagem no Jornal Nacional, detonando a ontopsicologia. A Farsa estava desmascarada.
Ouvi defesas sobre a ontopsicologia, dizendo que era "ousada", "audaz", "inovadora", "rompia paradigmas antigos", "estava sendo atacada por memes", "era útil", "transformava as pessoas para melhor..." etc.
Meses depois, voltei a internet e... novamente surpresa. A coisa contra a onto cresceu... tomou forma. Efeito Internet. Em um novo terapeuta, me livrei do onto e seus dogmas ridículos, entendendo como fomos hipnotizados coletivamente no Residence. Hoje toco minha vida e empresas muito bem, descobrindo a felicidade onde ela realmente se encontra, e o onto-papagaio não bica mais minha cabeça.

                                                                                                Abraço Cordial,

                                                                                                Mais um ontotário.